A paralisia facial consiste na paralisia dos músculos da face. Embora seja uma causa relativamente comum em consultórios, com frequência o paciente chega assustado pensando se tratar de um AVC (derrame). As causas mais comuns de paralisia facial são a paralisia de Bell (paralisia facial periférica) e acidente vascular cerebral (AVC), sendo esta última uma causa de paralisia facial central. A história clínica e exame neurológico são fundamentais para diferenciar o tipo. No padrão central, a metade inferior de um lado da face é afetado, ao passo que no padrão periférico, todo o lado da face é afetado (ou seja, pega até a testa). Nesse texto, focaremos apenas nos casos de paralisia facial periférica, também chamada de paralisia de Bell, responsável pela maioria dos casos de fraqueza unilateral dos músculos da face.
A incidência da paralisia facial periférica é de 20 a 30 casos para cada 100000 pessoas por ano, sendo de distribuição igual entre os sexos e mais prevalente entre 20-30 anos e, atingindo o pico após os 70 anos, além de ser encontrada mais facilmente em diabéticos, sendo rara em crianças com menos de 10 anos de idade.
Na paralisia facial periférica, a pessoa fica com dificuldade de mexer a testa, fechar os olhos e piscar, assoprar, sorrir ou mastigar alimentos (expressões faciais reduzidas ou ausentes), além de dificuldade para falar ou engolir e queixa de dor na face, mais comumente no ouvido. Durante a avaliação, o médico irá solicitar alguns exames para identificar a causa, mas a maioria dos casos é de causa desconhecida (idiopática, como a paralisia de Bell, chegando a 70% dos casos).
Dentre as causas relacionadas à paralisia facial periférica, podemos listar: diabetes mellitus, hipertensão, infecção por HIV, doença de Lyme, sarcoidose, tumores da glândula parótida, amiloidose, esclerose múltipla, AVC, infecções pelo vírus da família herpes-zóster, tumores na base de crânio por onde o nervo passa, infecções do ouvido médio, trauma, entre outros.
O diagnóstico é clínico e pode ser facilmente feito ao solicitar o paciente que feche os olhos, mostre os dentes e enrugue a testa, evidenciando a assimetria na face, com ausência de resposta no lado afetado. Exames complementares podem ser solicitados para excluir algumas das causas acima, mas, conforme dito anteriormente, a grande maioria dos casos é de causa desconhecida.
A maioria dos pacientes se recuperam completamente (80% dos casos em 3 meses), mas alguns podem permanecer com sequelas permanentes (5% dos casos). Essas sequelas são mais comumente vistas em pessoas com prognóstico pior, o que inclui: idade avançada (mais de 80 anos), hipertensos, prejuízo do paladar, dor em outro local além do ouvido e fraqueza completa (grau mais avançado). A recorrência é rara e deve chamar atenção para alguma causa secundária.
Quanto ao tratamento, a depender da causa, pode ser necessário resolver a condição que levou à paralisia, mas, de forma geral, há uma boa resposta com tratamento medicamentoso com uso de corticoide.
A musculatura que usamos para fechar os olhos e a produção de lágrima ficam reduzidas durante a paralisia. Por isso os cuidados com os olhos também são muito importantes durante o tratamento.
Siga as orientações passadas por seu médico. Abaixo estão algumas medidas que auxiliam sua recuperação:
- Use óculos escuros para proteger seus olhos de poeira, poluição e quando sair ao sol;
- Pingue colírio (lágrima artificial) várias vezes ao dia conforme orientação médica;
- Proteger o olho com tampão para dormir: usar esparadrapo ou micropore cortado em tirinhas de cerca de 5cmx1cm formando um “X” em cima do olho paralisado;
- Use canudinho para tomar líquidos e mastigue os alimentos devagar;
- Passe água de um lado para o outro da bochecha quando escovar os dentes. Se vazar pelo lado paralisado, faça uma pinça com os dedos para segurar os lábios;
- Fisioterapia com exercícios para estimular a musculatura da face pode ajudar;
- Retorne para reavaliação conforme orientação do seu médico.