A esclerose múltipla é uma doença autoimune, crônica e progressiva do Sistema Nervoso Central, isto é, células do próprio corpo “atacam” neurônios de regiões do cérebro, cerebelo, tronco cerebral, nervo óptico e medula espinhal, destruindo a membrana (capa) que os reveste (bainha de mielina), por isso é classificada como uma doença desmielinizante, sendo uma das mais comuns desse grupo. Quando isso ocorre, há um prejuízo na transmissão dos impulsos elétricos dos neurônios.
Sua causa é desconhecida e pode ter correlação com fatores genéticos e ambientais, sendo mais comum em países de clima temperado. Atualmente, sabe-se que baixos níveis de vitamina D e exposição solar, infecção pelo vírus Epstein-Barr, obesidade e tabagismo são os principais fatores de risco ambientais conhecidos para o desenvolvimento de EM. Por outro lado, várias alterações genéticas já foram associadas à possibilidade de um indivíduo vir a desenvolver esclerose múltipla ou não.
A esclerose múltipla afeta com mais frequência jovens adultos, especialmente as mulheres. É uma doença grave e que afeta de forma relevante a qualidade de vida do paciente e da sua família, sendo a principal causa de incapacidade não traumática em jovens e levando a importantes impactos sociais, emocionais, de saúde pública e econômica em nosso país.
O quadro clínico é bastante variável e depende das áreas afetadas, isto é, de onde ocorreu a inflamação e consequente lesão, provocando sinais e sintomas diversos que podem ser leves, moderados ou graves. O padrão mais clássico da doença é a forma remitente-recorrente, caracterizada por períodos de surtos (ataques da doença) seguidos de melhora completa ou de alguma sequela, sem piora entre um surto e outro. A forma clínica primariamente progressivo é a mais grave e consiste em um surto com progressão da doença com o passar do tempo. Na forma secundariamente progressiva, a doença começa com surtos, passando a ter piora lentamente com ou sem surtos.
A progressão, gravidade e sintomas são imprevisíveis. Dentre os sintomas mais comuns, destacam-se:
- Sintomas de fadiga (especialmente em dias quentes);
- Fraqueza muscular, chegando a ser confundida com AVC (derrame);
- Alterações de sensibilidade: dormência e/ou formigamento;
- Alterações do equilíbrio e coordenação;
- Dificuldade no controle da bexiga (incontinência urinária) e intestino;
- Problemas na visão (vista turva, cegueira, visão dupla, diminuição da acuidade visual);
- Disfunção cognitiva (dificuldade na memória, desatenção);
- Alterações do humor (depressão, ansiedade).
O diagnóstico da esclerose múltipla exige uma história clínica (identificar inicio dos surtos) e exame neurológico bem feito, sendo complementados por outros exames como Ressonância Magnética do Sistema Nervoso Central (crânio e medula), análise de líquido cefalorraquidiano, potencial evocado visual, entre outros, sendo aplicados critérios estabelecidos que exigem análise de disseminação da doença em tempo (diferentes momentos) e espaço (diferentes áreas envolvidas). Para os pacientes com esclerose múltipla, quanto mais cedo a doença for diagnosticada e adequadamente tratada, melhor será seu prognóstico.
A esclerose múltipla infelizmente não tem cura, mas tratamentos medicamentosos direcionado para a doença e suas complicações, fisioterapia, terapia ocupacional e outras atividades assistenciais podem ajudar a retardar a progressão da doença e, principalmente, minimizar suas manifestações clínicas. Logo, é de suma importância o acompanhamento multiprofissional com estratégias farmacológicas corretas e rede de suporte social e emocional para auxiliar no retardo da progressão da doença e proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes.
O SUS fornece tratamento gratuito após avaliação especializada, devendo este ser individualizado, levando-se em conta a gravidade da doença, tolerância medicamentosa e disponibilidade no serviço de saúde. Apesar disso, o manejo desta doença encontra dificuldades no país e segue como um desafio, sobretudo por se tratar de uma doença complexa e que envolve fatores sociais e estigmas. O neurologista é o especialista capacitado para tratar esta enfermidade, mas, com frequência, pode ser necessário o encaminhamento para um centro terciário especializado em doenças desmielinizantes ou acompanhamento com neuroimunologista.
Fonte: Adaptado de “Guia de discussão sobre Esclerose Múltipla no Brasil. Juntos para um novo futuro”. Agosto de 2020.